segunda-feira, 25 de maio de 2009


Há manhãs assim, quando caminho junto ao mar.
E lembro-me então do poema do Alexandre Pinheiro Torres ;
O Meu Filho Vê o Mar
Fui com o meu filho pela mão
ver o mar onde nasci:
o contorno do coração
por onde criança bebi
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o olhar com que hoje o vejo,
com que sempre o verei,
e pus-me a ouvir-lhe o realejo
e o ditado da Lei.
Tábuas de rocha pisei
e meus pés não escorregaram.
Foi ali por onde andei
o que hoje sei. Ensinaram
-me a caminhar sempre duro.
E esse vaso semovente
com um olhar mudo e mútuo
foi novamente meu.Frente
a frente a sua família:
um filho antigo,outro novo:
um regressado do exílio,
outro entrado no jogo.

Levei meu filho pela mão,
no seu passo soletrado,
e ele olhava o coração
e agarrava-me assustado,
e disse, após escutar
que era o mar que ali estava:
"Olha , pai, o mar está a andar!"
Isto ninguém lhe ensinava.
É que o meu filho bebia
desse vaso em coração,
o olhar com que ele o via
(ele o veria), e os outros não.
O horizonte ao longe olhando
onde o vaso ia acabar,
disse, o céu apontando:
"Olha, meu pai, outro mar."